quarta-feira, 27 de outubro de 2021

Dadaísmo, Cinema e Política - Walter Benjamin

 


 Arte na Era da Reprodutibilidade Técnica - Walter Benjamin

 

Contexto: Dada  ou dadaísmo - Movimento Artístico

O Dadaísmo ou Dada foi um movimento artístico da vanguarda europeia no início do século 20, com seus primeiros eventos em Zurique, Suíça, no Cabaret Voltaire ( 1916); Na América do Norte  começou em Nova York  e por volta de  1920, floresceu em Paris. 

Desenvolvido em reação à Primeira Guerra Mundial, (1914 - 1918) o movimento Dada   formou-se por artistas que rejeitaram a lógica, a razão e o esteticismo da sociedade moderna,  expressando   protesto antiburguês em absurdos e  irracionalidades nas  suas obras. 

 

A arte deste movimento abrangeu a mídia visual, literária e sonora, incluindo colagem, poesia sonora, escrita recortada e escultura. Artistas dadaístas comunicaram seu descontentamento com a violência, guerra e nacionalismo, e mantiveram afinidades políticas com a esquerda radical. Seu percurso esteve fortemente vinculado aos ideais socialistas e comunistas.

Não há consenso sobre a origem do nome do movimento. Uma história comum é que o artista austríaco Richard Huelsenbeck enfiou uma faca ao acaso em um dicionário, onde pousou em "dada", um termo coloquial em francês para cavalo de pau. 

 

Outros observam que sugere as primeiras palavras de uma criança, evocando uma infantilidade e um absurdo que atraíram o grupo.Ainda especulam que a palavra pode ter sido escolhida para evocar um significado semelhante (ou nenhum significado) em qualquer idioma, refletindo o internacionalismo do movimento. 

Porém dar sentido ao Dada é como  como dar sentido ao absurdo. Uma tarefa impossível. Não há nem mesmo acordo sobre a origem da palavra “dada”. Alguns ainda alegam que era "Sim-sim" em russo - embora, se fosse esse o caso, teria sido melhor chamá-lo “Niet-niet” (“não-não”).

Aparentemente, até Lenin se interessou pela origem. Teria perguntado   a Tristan Tzara, o empresário romeno do movimento, com quem ele jogava xadrez em Zurique, antes de retornar à Rússia em abril de 1917.nesta ocasião o Estadista  liderou a sangrenta Revolução que deu origem ao "terror vermelho" e a resposta  militar chamada  "terror branco" vitimando milhares de pessoas.

As raízes do Dada estão na vanguarda do pré-guerra. O termo anti-arte, um precursor do Dada, foi cunhado por Marcel Duchamp por volta de 1913 para caracterizar obras que desafiam as definições aceitas de arte.

Reagindo aos traumas das visões de guerras, como soldados nas trincheiras por toda a Europa, os artistas Dadá expressaram repulsa  não apenas pao  que consideravam imperialismo, mas pela sociedade burguesa como um todo. 

 

Vários de seus adeptos deram um passo adiante em sua revolta e se aliaram à lutas revolucionárias socialistas ou comunistas fazendo do movimento uma reação fortemente marxista.

Outros, que não seguiram o caminho da revolução  política, contribuíram para o desenvolvimento de várias tendências da arte contemporânea no período entre as guerras mundiais. 

Após  a Primeira Guerra Mundial o capitalismo sobreviveu ao seu papel historicamente progressista enquanto surgiam   alternativas políticas como o socialismo. 

Nessas condições, a arte - o aspecto mais sensível da vida cultural - também se modificou. As tendências artísticas da época e das décadas subsequentes - cubismo, futurismo, dadaísmo e surrealismo - ofereceram uma ruptura aguda, com nossa  sociedade, que muitos artistas consideravam em agonia. 

O movimento dadaísta incluiu reuniões públicas, demonstrações e publicação de revistas de arte e literárias. Artes , política e cultura eram  tópicos frequentemente discutidos em uma variedade de meios de comunicação


Os princípios do movimento Dada foram coletados pela primeira vez no Manifesto Dada de Hugo Ball em 1916.

Obras como Ubu Roi (1896) de Alfred Jarry e o ballet Parade (1916–17) de Erik Satie  seriam caracterizadas como obras protodadaístas.. 

Figuras-chave do movimento são  Hugo Ball, Marcel Duchamp, Emmy Hennings, Hans Arp, Raoul Hausmann, Hannah Höch, Johannes Baader, Tristan Tzara, Francis Picabia, Huelsenbeck, George Grosz, John Heartfield, Man Ray, Beatrice Wood, Kurt Schwitters, Hans Richter e Max Ernst, entre outros.

Dada foi um movimento internacional informal, com participantes na Europa e na América do Norte e seus primórdios correspondem à eclosão da Primeira Guerra Mundial. 


Os círculos de vanguarda fora da França sabiam de desenvolvimentos parisienses antes da guerra. Tinham visto (ou participado de) exposições cubistas realizadas nas Galerias Dalmau, Barcelona (1912), Galerie Der Sturm em Berlim (1912), Armory Show em Nova York (1913), SVU Mánes em Praga (1914),  em Moscou e no De Moderne Kunstkring, Amsterdã (entre 1911 e 1915). 

O futurismo se desenvolveu em resposta ao trabalho de vários artistas. Dadá posteriormente combinou essas abordagens. 

Tumultuados acontecimentos do século XX  cortaram o amadurecimento pleno deste movimento. Muitos  artistas dele emergiram como  boêmia de esquerda. Ao contrário dos revolucionários socialistas marxistas, dedicaram-se a revolução da forma estética. Representaram uma fase inevitável no desenvolvimento da arte moderna no meio  das crises políticas que ocorriam.


Uma exposição  no Museu de Arte Moderna (MoMA), Nova York, de 18 de junho a 11 de setembro de 2006 focando no período Dadá, que durou apenas de 1916 a 1924, aborda essas questões. 

Inclui valioso material histórico e  explica Dadá quase exclusivamente como uma reação à Primeira Guerra Mundial.

Dadá  teve uma influência duradoura na medida em que seus traços  podem ser encontrados em muitos dos desenvolvimentos subsequentes na arte do século XX. O movimento influenciou estilos posteriores, como os musicais de vanguarda de centros urbanos, e grupos como o surrealismo, Nouveau Réalisme, Pop Art e  Fluxus (Yoko Ono). 

 Máscara de Marcel Janco, 1919

Os artistas que proclamaram o “Dadá” como um credo, o faziam porque, nas palavras de Marcel Janco:

 “Tínhamos perdido a confiança na nossa cultura. Tudo teve que ser demolido. Começaríamos de novo depois da 'tabula rasa'. No Cabaret Voltaire, começamos chocando o bom senso, a opinião pública, a educação, as instituições, os museus, o bom gosto, em suma, toda a ordem prevalecente. ” 

Walter Benjamin Recepção Tátil e Ótica

 

O declínio da " Aura da Arte"

Segundo Benjamin, o declínio da aura da obra de arte vem  de dois fatores ligados aos  movimentos de massa:  a população  moderna quer  que as coisas se tornem mais próximas e humanas, e estas populações preferem  as reproduções  no lugar do  caráter único da obra de arte. 

Benjamin (1987) define  aura  "como uma forma singular, composta de elementos espaciais e temporais: aparição única de uma coisa distante, por mais perto que ela esteja”

Na época de  reprodutibilidade técnica a arte rompe com  a distância  imposta pela arte tradicional. Para a sociedade moderna o valor da obra de arte  única e original é substituído pela valor da exposição.

 O declínio da aura da obra de arte acontece devido a estes fatores reprodutivos e perceptivos. 

O modo de analisar esse fenômeno no pensamento de Benjamin está dividido  desaparecendo a "aura da arte". isto pode gerar um empobrecimento da experiência cultural se não acontecerem  novas expressões artísticas. 

Este fenômeno de perda da "aura de arte" ocorre porque  novas condições criadas na estrutura da sociedade moderna mudaram a  própria arte. A  comunicação e as formas de expressão do homem são diferentes daquelas que existiam antes.

O cinema traz uma nova relação  da arte com as multidões.  O homem moderno vê muito significado  nas imagens cinematográficas. 

 

Recepção Tátil e Ótica

No cinema se ampliou a capacidade perceptiva e fantasiosa humana, mobilizando não apenas o olhar do espectador em contemplação, mas todo o corpo. Na recepção tátil o homem reage ao  que lhe causa alguma sensibilidade. Existe então a percepção ótica e tátil.

Esta impressão  artística se traduz na  perturbação causada por tudo que é percebível e tem caráter sensível . No cinema ,  quando  nos referimos à recepção tátil existe um fator fundamental que é a distração (hábito, distração, absorção), também interpretada como diversão.

As mudanças bruscas de imagens no cinema interrompem a associação de ideias do espectador enquanto a narrativa em fragmentos forma uma onda de CHOQUE.

A vida moderna nas grandes metrópoles produziu fragmentação das relações humanas e o homem procurou artifícios para não ser abalado por estes "choques"vivenciados.

O cinema é a forma de arte correspondente aos perigos existenciais mais intensos com os quais se confronta o homem contemporâneo. Nele   a sociedade  vivencia estes choques através de uma distração ( diversão) crítica .


 
Benjamin diz que: ... a recepção através da distração, que se observa crescentemente em todos os domínios da arte e constitui o sintoma de transformações profundas nas estruturas perceptivas, tem no cinema o seu cenário privilegiado. E aqui, onde a coletividade procura distração, não falta de modo algum a dominante tátil, que rege a reestruturação do sistema perceptivo.

O cinema trazendo uma nova função social da arte, contribuiu de forma positiva para o aprofundamento da percepção do homem moderno, que já acontecia  pelo ritmo frenético das grandes cidades e da industrialização. 

 Walter Benjamin, Dadaismo e Cinema

"O dadaísmo colocou de novo em circulação a fórmula básica da percepção fantasiosa, que descreve ao mesmo tempo o lado tátil da percepção artística: -  tudo o que é percebido e tem caráter sensível é algo que nos atinge. 

Com isso, favoreceu a demanda pelo cinema, cujo valor de distração é fundamentalmente de ordem tátil, isto é, baseia-se na mudança de lugares e ângulos, que golpeiam intermitentemente o espectador. 

O dadaísmo ainda mantinha, por assim dizer, o choque físico embalado no choque moral; o cinema o libertou desse invólucro. Em suas obras mais progressistas, especialmente nos filmes de Chaplin, ele unificou os dois efeitos de choque, num nível mais alto".

  

A Estética da Guerra

O dadaísmo nasceu atribuindo ao capitalismo e a propriedade  a origem do horror da Primeira Grande Guerra  Mundial. 

Benjamin cita um manifesto de Marinetti que aborda a guerra  seguindo o mesmo princípio. 

Este texto, estética de guerra, materializa uma crítica política e ideológica  tratando  horrores de guerra como   beleza  que  agrada supremacias e conduz a submissão da massa humana. Faz uma relação entre a existência das guerras e o fascismo.

Afirma que" guerra, e somente a guerra, permite dar um objetivo aos grandes movimentos de massa, preservando as relações de produção existentes e que somente a guerra permite mobilizar em sua totalidade os meios técnicos do presente, preservando as atuais relações de produção."

 Resumindo, que guerras são o principal  meio político e técnico para  garantir supremacias.

 

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