terça-feira, 1 de junho de 2021

Ensino da Arte em Minas Gerais - Século XX

 

Estudo sobre a reforma mineira de ensino, ocorrida na segunda década do século XX, em Minas Gerais, a partir do texto  " Ensino da Arte nos Primórdios de Belo Horizonte" de Patricia de P. Pereira .

No início do século XX, período  de amplo desenvolvimento industrial e urbano, o governo mineiro promoveu uma reforma de ensino  a fim de  preparar as crianças para viver em sociedade, abolindo métodos extremamente autoritários e centrados no professor.

Formaram a chamada "Missão Pedagógica Europeia" cuja finalidade era trazer  vários profissionais da  medicina, psicologia, pedagogia e arte para implementar esta renovação, qualificando profissionais  e atuando no Ensino Superior.

Foram relevantes nesta  mudança o médico belga Ovide Decroly, a psicóloga russa Helena Wladimirna Antipoff, o psicólogo suíço Edouard Claparède  e a belga Jeanne Louise Milde, que trazia farta bagagem artística destinada a enriquecer o movimento educacional  ESCOLA NOVA (Maria Montessori e Jean Piaget).

 

JEANNE  LOUISE MILDE - 1900 / 1997

- Nascida em 1900 estudou artes no período entre 1918 e 1927 sendo a primeira mulher admitida na Real Academia de Artes de Bruxelas, escultora  premiada na sua comunidade.

- Veio  ao Brasil para dirigir a Escola de Artes, da prometida  Universidade do Trabalhador, projetada pelo governo de Minas Gerais.

 

- Após malograr o projeto da Universidade, que se transformou em Faculdade de Arquitetura, Jeanne Milde permaneceu no Brasil, instalando seu atelier no Grande Hotel  de Belo Horizonte  ( hoje edifício Maleta), e desenvolvendo atividades artísticas e pedagógicas.

- Lecionou escultura, modelagem e desenho na Escola de Aperfeiçoamento do Magistério, na  Escola Normalista de Belo HorizonteEscola de Polícia  Rafael Magalhães, Fazenda do Rosário (onde trabalhou com Antipoff) e  na área de Administração Escolar  do Instituto de Educação.

- A formação acadêmica levou à  inúmeras  linguagens artísticas que a impressionavam, como simbolismo, art deco, art nouveau, expressionismo e impressionismo. Este sólido conhecimento de história da arte, aliado à visão crítica dos movimentos modernos, originou sua performance: figurativa,  neoclássica e romântica.

  - Num círculo  tímido de  autodidatas e artistas gráficos,  foi a primeira mulher com formação acadêmica a sobressair como escultora. Ainda organizou a classe artística e impulsionou várias exposições e trabalhos relevantes.

 - Participou do modernista Salão Bar Brasil (1936), que acabou sendo um marco precursor de modernidade e quebra das convenções, antecipando o  primeiro Salão de Belas Artes (1937) em  Minas Gerais.  Isto ocorria paralelo ao despertar da Arte Moderna no Brasil, poucos anos  após a "Semana de 22"

-  Seu ensino refletia ideias liberais e contrárias ao conservadorismo da sociedade mineira. Aprimorou o espírito de criatividade voltado para a prática escolar, pensando a educação como um todo , unindo a erudição da arte com os aspectos práticos da vida numa  perspectiva  utilitarista .

 -Realizava apreciadas exposições com os trabalhos dos seus alunos; transitava pelos ambientes de arte  validando e organizando os artistas mineiros.

-  Produziu esculturas para parques, praças, cemitérios, comércios e jardins. Grande destaque é dado aos dois baixo relevos que se encontram na entrada do Instituto de Educação de Belo Horizonte, onde funcionava a Escola Normal de Minas Gerais.  Cada um apresenta cinco mulheres carregando objetos simbólicos. No centro  o sol que representa a luz do conhecimento. A direita  alusão às ciências naturais, geografia, literatura e geometria. No lado esquerdo o simbolismo  da arte  englobando escultura, canto, música e pintura.

- Obra muito expressiva foi realizada para a Cia Belgo Mineira sediada em Sabará. "Alegoria a Indústria" (1935). O alto relevo em bronze, pesando cerca de 250kg, executado pelo processo de cera perdida, é um dos maiores do gênero no Brasil

-  Ao iniciar da década de 40 outro artista surge no cenário do magistério voltado à arte em Belo Horizonte. Alberto da Veiga Guignard, fluminense,  fundou  o Curso Livre de Desenho e Pintura, conhecido como "Escolinha do Parque",  trazendo uma visão considerada inovadora. Simultaneamente  Jeanne Milde  atravessou um declínio de popularidade, emergindo do ostracismo por volta de 1980, com várias exposições, em vida e póstumas.

- No final declarou: “Eu sonhava toda minha vida ser uma coisa especial, não ser como todo mundo. E graças a Deus eu sou...” . Realmente marcou um período de renovação da arte e educação em Minas Gerais, citado até no poema As Moças da Escola de Aperfeiçoamento de Carlos Drummond de Andrade.


Pos Scriptum

- Jean-Ovide Decroly foi um médico, psicólogo, professor e pedagogista belga.

- Edouard Claparède, pesquisador genebrino que viveu de 1873 a 1940, foi psicólogo infantil um dos fundadores do Instituto Pestalozzi

-Helena Wladimirna Antipoff, psicóloga e pedagoga russa, pesquisadora da criança com deficiência, foi pioneira na introdução da educação especial no Brasil, onde fundou a primeira Sociedade Pestalozzi. 

- Louise Artus Perrelet epois de terminar seus estudos artísticos em Genebra dedicou-se a aplicação das artes plásticas à didática pestalozziana.





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